Tuesday, November 22, 2005

Emergência

O dia começou calmo. Da recepção tinham-me dado os três toques prometidos no dia anterior para que eu acordasse a tempo e horas para os encontros há muito agendados. Tudo calmo. Tudo bem. De repente ouço um sinal de alarme no quarto ao lado. Pensei: O telefone do vizinho tem um som estranho. Pensei: Talvez o vizinho tenha pedido um serviço de despertar especial... Qualquer coisa à prova de sono de pedra. Pensei: Talvez o homem ou a mulher (sim, se houvesse alguém no quarto seria um homem ou uma mulher, nunca os dois... Não ouvi ruídos de copulação durante a noite) tenha sentido alguma indisposição e accionou o alarme para o pessoal da recepção. Não pensei mais nada, quedando-me confortável e saboreando os minutos mais rápidos do dia.
Não tinha ainda passado um minuto quando disparou também o alarme do meu quarto. Mau! pensei. Abri as narinas para sentir o cheiro do fumo que lá não estava. Abri os olhos ensonados na tentativa de visualizar fogo. Nada! Nada mexia no quarto, à excepção da minha respiração que começava a querer levantar voo. Pus-me a pé de um salto e de outro abeirei-me da janela para ver de que altura iria ser o tombo, caso a situação de emergência emergisse mesmo. Quatro metros, avaliei. Quem por amor à vida não daria um saltito da altura de dois homens?
Lá fora o espaço era feito da paz e da calma de um britânico mais circunspecto. Tudo calmo. Tudo bem. Cá dentro a zoeira das sirenes irritava um bocadinho, diga-se. E, o que se espera que faça o Zé Portuga nestas situações? Exactamente! regressa à cama para saborear mais uns minutitos rápidos, afinal em Portugal os alarmes de incêndio também tocam e nunca acontece nada. Assim o fiz. Já no quentinho, ao som do iu iu iu iu das sirenes, o intercomunicador disparou: Ladies and gentlemen, you have to leave the building, immediately!
Ó diabo!!!! Afinal isto é mesmo a sério! pensei.
Saltei novamente da cama e meti-me dentro das calcas do dia anterior. Uma t-shirt à pressa, o telemóvel que me custou uma pipa de massa, o portátil e, está a andar porta fora! Segui as placas de saída de emergência com uma intuição canina. À minha frente seguia um casal com um bebé nos braços. A última porta de emergência, por incrível que pareça, não abria. Tive que usar da habilidade manual e bruta, característica em qualquer português (eu). Apliquei um abre-te Sésamo forçado sobre o fecho e por fim lá tinha a porta aberta. Cá fora estavam todos de cobertores às costas. Eu estava em t-shirt. Que frio, jasus!
Não posso jurar (simplesmente porque as juras comprometem) mas não andarei longe da verdade se disser que fui o último a sair do hotel - nestas coisas sou assim, não sendo o primeiro prefiro ser o último... é que dos do meio não reza a história.
Passei meia hora de frio intenso mas estou vivo, tonificado (junção dos termos “toninho” com “petrificado”) e feliz. Acho que os cozinheiros lembraram-se de fazer um churrascozito na cozinha, nada que em Portugal se não resolvesse com um bom balde de água fria. Em Londres tiveram que chamar 4 corporações de bombeiros e acordar todo o edifício. São uns cagaçolas estes ingleses! É um desmazelado este português!

19 Bocas:

Anonymous Anonymous Disse...

Ah, ah, ah. Tanta coisa para recordares à humanidade que te conhece que "Quatro metros... um saltito da altura de dois homens?"?! Essa camada da atmosfera em que respiras é pobre em oxigénio ou não entendes o conceito de "4 metros"? Saltito?!

7:17 PM  
Blogger Temp Disse...

Aqui em cima, nesta latrina, respira-se o ar transpirado pelos que vivem abaixo dos 1,90 m. Tu deves viver numa redoma celeste para não entenderes que por amor à vida dá-se sempre um qualquer salto de uma altura qualquer. Estas coisas não se aprendem lendo mas vivendo fora da redoma :-)))

9:37 AM  
Blogger Bapla Disse...

que aventura!!!! :)
ainda bem que acabou bem!

2:42 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Título:

"A latrina de Bocados"
(ele lá sabe...)

Quem não sabia fica a saber que o nosso anfitrião vive acima do 1.90m (e vive mesmo, não é invenção). Também ficamos a saber que ele respira os nossos odores corporais e considera que eu "vivo numa redoma" = reacção infantil e mimada de quem se sente atingido por um dardo, asseguro que totalmente imaginário. Não quis perturbar-te, meu caro, se quisesse teria questionado a regra das proporcionalidades (aquela interrogação sobre se TUDO é proporcional ao tamanho nos homens que vivem acima do tal 1.90m). Apelaria às frequentadoras femininas deste blog para especularmos juntas sobre a questão: "Será que todas as partes anatómicas de Bocados são proporcionais ao 1.90m?". Não fiz nada disso, pois não? Como vês, não pretendi espicaçar-te...

8:45 PM  
Blogger Temp Disse...

Eu disso não entendo nada... é tudo relativo e nessas coisas não é nem de “bom tom” relativizar, mas, posso assegurar-te que até hoje ainda não vi um homem alto com os braços pequenos.

7:47 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

A tua sorte é eu ter-te muito respeitinho, pelo que não vou continuar a aventurar-me neste terreno. Algo me diz que acabava cilindrada por um desses teus rasgos de humor contundente...

2:45 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Não!Nem todas as partes anatómicas do Bocados são proporcionais a 1,90m!Agora tirem as conclusões que quiserem!

2:31 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Não sei o que é que tu achaste desproporcional. Eu já inspeccionei TODAS as partes anatómicas dele e considero-as absolutamente proporcionais. Acham que o automóvel é importante por si só ou é o condutor que faz a diferença?

4:22 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Não devemos estar a falar da mesma parte anatómica do Bocados!
E sim, o condutor é muito importante,mas quem é mau condutor ao volante de um Mini também o é ao volante Mercedes.

6:04 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Humm.Já estou com curiosidade, pelo menos.

6:46 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

A nossa aparência, particularmente no que diz respeito a determinadas partes anatómicas, varia consoante o... hum... ânimo. Isso talvez explique a diferença entre as nossas perspectivas.
Realmente, um mau condutor é sempre prejudicial. Porém, um bom condutor faz maravilhas, mesmo num Mini.Além disso, é muito deprimente ver um azelha ao volante dum Mercedes.

10:24 AM  
Anonymous Anonymous Disse...

Neste caso temos um bom ou um mau condutor?

2:21 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Bem, há quem ganhe um prémio Nobel, há quem se dedique a causas humanitárias, há quem evidencie um talento inato para jogar futebol... E depois há pessoas como Bocados, que nasceram para pilotos de Fórmula 1.
Proponho encerrarmos este tema, uma vez que está provado que nós, leitores deste blog, também conseguimos calar o anfitrião... O poder ao povo!!!!!

2:51 PM  
Blogger Temp Disse...

O tema até estava interessante. Pena que cheguei tarde.

6:42 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Há gajos com sorte...

11:08 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Gajos?! Ou gajas com sorte? rs rs

12:55 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Eu tenho sorte.

3:08 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

GajOs, sem dúvida. Bocados entende o que eu quero dizer.

4:22 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Se ele nasceu para piloto de um Fórmula 1, o carro é pequeno de tamanho, mas rápido, na performance.

4:44 PM  

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